A ORIGEM DO COBOGÓ

O Cobogó voltou com força total no design de interiores e em jardins como o do paisagista Alex Hanazaki.

Publicado em: 29/04/2019

                                                                                                                                                                         

  Quem já não conhece a origem do cobogó, poderia facilmente pensar que este nome possuiria alguma origem indígena. Ou talvez, sabendo que o Cobogó surgiu no Nordeste, mais precisamente em Recife, poderia ainda imaginar que a palavra tivesse origem na cultura africana. Pois não. Esses charmosos blocos vazados, que hoje tomam forma a partir dos mais variados materiais, foram inspirados em elementos da arquitetura árabe e assim batizados pelos seus criadores, a partir de suas iniciais: Amadeu Oliveira Coimbra, Ernest August Boeckmann e Antônio de Góes. CO-BO-GÓ.

Profissionais como Alex Hanazaki usam cobogós para compor seus projetos. Neste mini documentário ele apresenta alguns de seus projetos .assista aquI: https://www.anualdesign.com.br/filmes/14872/alex-hanazaki-casa-cor-e-projetos-premiados/https://www.anualdesign.com.br/filmes/14872/alex-hanazaki-casa-cor-e-projetos-premiados/


A inspiração veio do muxarabi (Mashrabiya): elemento da arquitetura árabe, que consiste em treliças de madeira instaladas nas sacadas e janelas das casas, no intuito de permitir a abertura destas sem para tanto, possibilitar que as mulheres fossem vistas da rua. A prática islâmica proíbe a representação artística de qualquer elemento vivo, pois acreditam que a perfeição das formas criadas por Allah não poderiam jamais ser alcançadas pelas mãos humanas, o que resultaria em uma ofensa. Embora não esteja expressamente determinado no Al Corão, ao longo dos séculos, essa prática fez com que eles se especializassem na arte das formas geométricas e dos arabescos, dos quais testemunham não só seus muxarabis, mas também suas casas, mesquitas, joias e objetos pessoais, de beleza ímpar. E assim como sua fonte de inspiração, o cobogó soube se aproveitar das infinitas combinações geométricas para logo deixar de lado o seu papel funcional e passar a ser parte decorativa da obra.



                                                        

Originalmente em concreto, o cobogó foi criado e patenteado em 1929, pelo comerciante português Amadeu Oliveira Coimbra, o alemão Ernst August Boeckmann e o engenheiro pernambucano Antônio de Góes. Os três moravam em Recife, no início do século, trabalhavam na construção civil, e a criação foi uma solução para amenizar as condições climáticas no interior das casas nordestinas, e levantar paredes sem vedar a entrada de ar no ambiente. Uma ideia simples e barata, que se popularizou rapidamente, passando, nos anos 1940 e 1950, a ocupar também o interior de casas, servindo como divisória de ambientes. Adotado pela arquitetura modernista, esse recurso passou por mutações, e foi muito usado na construção da nova capital, sendo facilmente encontrado em casas e prédios públicos do plano piloto.


Parque Eduardo Guinle, por Lúcio Costa, Rio de Janeiro, 1954.



Casa do Balão Vermelho, por Leo Romano, tem uma parede inteira envelopada por Cobogó


Residência por Lúcio Costa, no parque Eduardo Guinle, Rio de Janeiro – Foto: Nelson Kon



Casa Cobogó, de Márcio Kogan (Foto: Nelson Kon)


Mesa dos irmãos Campana, inspirada nos Cobogós. 


Bliblioteca Nacional de Brasília, de Oscar Niemeyer


Espaço projetado pelas designers de interiores Liliane Barreiros, Rosangela Pauli e Carla Amstrong.

Projeto de Luiza Bohrer




O CHARME DO COBOGÓ :

Um elemento arquitetônico que tem a cara da vida nos trópicos. De origem nordestina e inspiração árabe, o cobogó rompeu os limites territoriais para se tornar um elemento imprescindível e cada vez mais presente na arquitetura contemporânea. Uma das maiores influências do seu design vem das formas geométricas e da força decorativa dos muxarabis, estruturas de madeira entrelaçadas utilizadas na arquitetura árabe para proteger os ambientes da incidência de luz e as mulheres de serem vistas da rua.

Patenteada nos anos 1920, originalmente em concreto e cerâmica esmaltada, o cobogó é uma criação do comerciante português Amadeu Oliveira Coimbra, o alemão Ernst August Boeckmann e o engenheiro pernambucano Antônio de Góes. Os três, residentes em Recife e com ofício na construção civil, buscavam uma forma de erguer paredes sem cobrir totalmente a entrada de ar. Não demorou a que a ideia se popularizasse. Interessante ressaltar que o nome da invenção se deu pela junção da primeira sílaba dos sobrenomes dos seus criadores.

Apesar do surgimento no Nordeste, a inspiração árabe, o cobogó foi amplamente difundido pelo arquiteto Lúcio Costa, que inseriu referências coloniais ao inserir o item em suas obras. Brasília é um exemplo da versatilidade e da força do cobogó na década de sua construção, com diversas casas e prédios com a estrutura em destaque. Os edifícios erguidos super quadras sul e norte da capital federal entre os anos de 1960 e 1970 trazem os cobogós em substituição aos brises nas fachadas posteriores. Sua utilização representa mais volumes às estruturas, que inicialmente chamavam a atenção por sua uniformidade.

No mesmo período em que os cobogós de concreto davam a cara de Brasília, espalhando-se pelos quatro cantos da cidade, eles começaram a aparecer também nos projetos de interior em diversas partes do Brasil. Eles, então, deixam de ser elementos somente encontrados em varandas, corredores e fachadas, mas se tornam opções de divisórias, contribuindo para ampliar e dividir espaços, assim como para uma melhor ventilação em apartamentos.

Para a empresária Fernanda Bastos, nome à frente da Munó Acabamentos, o cobogó encanta por suas muitas funções. “Estudamos muito este segmento de produto, e descobrimos que seu uso em países tropicais é ainda mais interessante, pois com a incidência solar, ele se torna uma luminária urbana, com suas sombras desenhando no piso o estilo do projetado”, garante. Ela ainda complementa que não vê a tendência se dissipar tão cedo.

Por possibilitar tantas repaginações, o cobogó é uma excelente opção para imprimir a personalidade do morador na decoração, como indica a empresária. Nos ambientes internos, ele pode ser colocado próximo a uma parede espelhada, por exemplo, o que vai dinamizar o layout e ampliar o espaço. Uma opção bastante refrescante e sofisticada muito utilizada é o cobogó com cortinas de voil por trás. Outra alternativa que garante aconchego e frescor é o uso do cobogó junto do projeto paisagístico, de forma que as plantas possam ser vistas através da peça.

A versatilidade do cobogó garante um leque infinito de possibilidades, mas algumas ressalvas podem ser interessantes para melhor aproveitamento do item. É de extrema importância realizar um estudo sobre o local em que o cobogó será inserido, assim como analisar as particularidades do material escolhido para a estrutura. “Os (cobogós) de cerâmica e madeira não lidam muito bem com sol e chuva, mas ficam maravilhosos em ambientes internos despojados. Os cimentícios têm uma espessura maior, e ficam lindos interna e externamente”, aponta Fernanda.



Casa do Balão Vermelho, por Leo Romano

Você pode saber mais sobre este universo amplo e criativo do Cobogo, conheça nosso artigo A origem do cobogó. Clique aqui!


Projeto com cobogós em área externa assinado pela arquiteta Camila Oliveira


Cobogó harmonizado com paisagismo neste projeto de Aline Santos


O arquiteto Leo Romano apostou no tom de branco os elementos vazados neste projeto


A arquiteta Luciana Duarte utilizou o cobogó na parede deste projeto, deixando a área externa à vista da interna


A profissional inseriu o cobogó como divisória e apostou no amarelo para aquecer o layout


Em azul, cobogó serviu como estrutura para este pavilhão em Brasília


Edifício de Brasília com fachada inteiramente estruturada com os elementos vazados


Edifício em Brasília com dinamismo geométrico por meio dos cobogós na fachada



                                          







COMENTÁRIOS

  • Jaime Sàiz - 21/12/2020 20h19
    Na verdade esses tais "elementos vazados" já existiam também feitos em "linha de montagem" em países da Africa Ocidental como Nigéria, Benin, Marrocos, Mauritania, Senegal, Costa do Marfim, Togo, etc. Feitos já em cerâmica, barro e argamassa artesanal, ou construídos como mosaicos de tijolinhos e inclusive vidro. A modernização industrial e a patente é que são brasileiras
  • Reginalda Mafra Oliveira De So - 18/08/2020 14h10
    Amei a reportagem! Eu conhecia a origem do nome mas não me lembrava que era uma invenção brasileira, muito orgulho!Moro numa casa do dcomecinho da década de 60, sua fachada ainda é original e parte do alpendre é fechado com uma parede de cobogós! Se tiverem interesse eu envio foto, eu amo , apesar dela ser bem simples!
  • Rejane Pinheiro - 22/08/2019 14h57
    Parabéns pela qualidade da matéria e bom gosto dos projetos.
  • Fabienne Mello - 13/08/2019 20h41
    O Cobogó é um elemento arquitetônico tipicamente brasileiro cujo nome deriva das iniciais dos sobrenomes de dois comerciantes e um engenheiro, que no início do século XX trabalhavam na cidade do Recife: Amadeu Oliveira Coimbra, Ernest August Boeckmann e Antônio de Góis.
  • Rebequinha_bonequinha_37 - 08/05/2019 16h34
    achei uma maravilha, informante e criativo me ajudou na historia e na minha vida me sinto mudada e outra pessoa. Me deixou mais atenta e feliz uma nova pessoa com uma nova expectativa de vida e um novo olhar. Porque sempre que vejo uma materia assim eu nao resisto eu preciso ler e comentar Cobogó é algo novo e futurista que mostra o futuro das cidades e do mundo por um mundo mais ventilado e com mais luz, graças ao cobogó que veio para ficar principalmente nas favelas por ser mais facil de fazer e se comunicar. -HAHAAAAAIIII TO ADORANDO
  • Ieda - 28/04/2019 14h02
    Linda reportagem. Sou apaixonada por elemento vazado. Vi na TV e agora sei que o amo na verdade BODOGO
  • Alberto - 22/01/2019 12h36
    Atualmente é chamado pelos profissionais da construção civil de "Elemento vazado". O intuito é de englobar todas as variedades de cobogós surgidos nesses quase 100 anos de existência. Os mais utilizados são de argila e porcelana vitrificada.
  • Klaus - 02/11/2018 00h06
    Respondendo o questionamento ou duvida do caro Jeron. Sou de Manaus e não chamamos de comungou, isso é vulgarmente dito por quem não conhece, diria por falta de conhecimento é chamado por alguns de comungou, quando o correto é COBOGÓ.
  • Jeron - 31/10/2016 18h16
    Aqui em Manaus chamamos de comugou,queria saber o porquer??
  • Beatriz - 03/10/2016 17h28
    Cobogó é realmente algo sensacional. E o jogo de luz e sombra que ele permite é incrível. Senti falta apenas de fotos do cobogó utilizado em Pernambuco, local onde ele foi idealizado e tão usado.
  • Miecislau Dolata - 06/09/2016 12h24
    Gostei muito da sacada de Mashrabia da qual tanto falou e fez uso o saudoso Arq.Hassan Fathy.A da foto de cima além de linda,útil e prática é uma verdadeira obra de arte;Colírio para qualquer olhar.Amei!
  • Joceli - 30/07/2016 09h43
    Gostei do painel do Espaço projetado pelas designers de interiores Liliane Barreiros, Rosangela Pauli e Carla Amstrong. Vocês comercializam estes cobogós?
  • Carlos Antônio Teixeira Jr - 21/07/2016 14h34
    Belíssimo!
  • SEbastian Kosta - 25/08/2015 20h16
    Inicialmente tive a grata satisfação de conhecer a página tão belamente ilustrativa, e acima de tudo, ótima qualidade ao pagina-las. Aguardo os lançamentos. O meu abraço.
  • Camila - 20/01/2015 13h11
    Onde posso encontrar pea de cobiço em Madeira para comprar? Quem eh o fornecedor do painel do projeto da Luiza Bohrer acima? Obrigada Camila
  • Rose Michelson - 16/06/2014 18h20
    Em Brasilia temos o grande privilégio de sermos rodeados de prédios com suas maravilhosas paredes de "Cobogó". Os prédios da SQS 105 sul são os mais antigos e com pintura original. Uma idéia de design completamente atemporal

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