Arquitetura que conversa

Fotógrafo Clausem Bonifácio volta inspirado do Salão do Livro em Paris e conta em primeira mão sobre o projeto de seu livro próprio

Publicado em: 28/04/2015


Visões Urbanas. Será este o nome da publicação que levará impresso o olhar particular do fotógrafo Clausem Bonifácio. Nascido no Rio, este carioca firmou raízes no coração do Brasil. Multifuncional por essência, o artista transita com propriedade pela música, fotografia e pelo design, principalmente quando a mira de sua lente aponta para Brasília. Morador apaixonado do Plano Piloto, ele acredita experimentar o paraíso, instalado em uma das regiões mais bonitas do Brasil: o norte de Goiás.







Em entrevista exclusiva para o Anual Design, Clausem contou um pouco de sua última turnê pela Europa, quando trabalhou no Salão do Livro de Paris e acabou se inspirando para produzir seu primeiro livro. “Voltei muito animado para fazer meu próprio livro. Vai se chamar Visões Urbanas porque o que eu retrato é exatamente isso: a arquitetura que conversa. Evito a figura humana e quando aparece, geralmente é em segundo plano. É muito difícil fotografar arquitetura e ela conversar com você. Este é meu desafio. Conseguir uma imagem que remete a algum conteúdo sem usar a figura humana que já é expressiva naturalmente”, divulga em primeira mão para os leitores deste site.



Apesar de se destacar com trabalhos expressivos de fotografia autoral, a história das fotos de Clausem é tão múltipla quanto suas habilidades. O artista iniciou seus clicks há pelo menos 30 anos como repórter fotográfico. Depois abriu um estúdio onde produzia fotos publicitárias. O próximo setor visitado pelo talento do autor foi dentro da expertise do Anual Design. As fotos decorativas e artísticas se revelaram um desafio à altura de Clausem Bonifácio: criar dentro de um programa estético específico e preestabelecido. “De uns anos para cá, tenho me dedicado a fotos decorativas e artísticas. Este é um desafio interessante para mim: criar fotos para compor ambientes. Na fotografia livre tenho mais liberdade portanto o conteúdo é mais fácil capturar porque está dentro da minha cabeça. É menos complicado”, analisa.



A essência do trabalho do artista está ligada à métrica e à geometria. Visceralmente urbano, Clausem faz uma leitura viva da cena coletiva das grandes cidades, sempre com um olhar mais atento do que o da maioria. “O que define o artista é o que ele percebe que as demais pessoa não conseguem ver. Este é o trabalho do artista: explicar para as pessoas a própria vida delas. O mais legal é explicar para quem não se preocupa. Apontar a beleza que está na cara e ninguém vê”, avalia.



Muito influenciado pelos “grandes mestres”, como classifica Oscar Niemeyer, Burle Marx - de quem ganhou pessoalmente uma serigrafia - e Athos Bulcão - a quem conheceu pessoalmente, Clausem é adepto da arquitetura perfeita. Isso pode ser observado pela simetria presente na maioria das composições fotográficas do artista.







Outro fundamento essencial na composição autoral do fotógrafo é o elemento luz e suas reflexões e refrações, como na foto acima. “ Estou sempre na contramão. Todos em uma direção não há desafio… Eventualmente a gente se vê obrigado a descobrir os próprios caminhos”, diz. Com muitas imagens externas, a iluminação se impõe como o principal instrumento da arte do autor.



A ótica impetuosa de Clausem sobre formações arquitetônicas também ganha respaldo na escolha da luz ideal - elemento que ganha a cena no enquadramento na maioria das vezes. É a combinação de uma iluminação sensível com o olhar mágico do autor que transforma a paisagem urbana em algo vivo nas fotografias. A maioria das composições - como é o caso desta acima - relacionam as construções com o entorno em uma poesia muda onde o concreto assume forma orgânica. Clausem encontra a beleza escondida nas brechas e explora com perspicácia, perfeição métrica e classe estética cada oportunidade visual.



Europa



Além de Paris, nesta última turnê pela Europa, Clausem Bonifácio passou pela Inglaterra, por cidades bucólicas no interior da Itália, pela “impressionante” Budapeste (Hungria) - exuberante em arquitetura, assim como Praga (República Tcheca). Mas o destino que mais chamou sua atenção pelo histórico de resistência foi a Polônia - país devastado pela Guerra.



“Quem for à Varsóvia precisa conhecer o Museu do Levante para entender como a comunidade foi despatriada com o domínio soviético. Mais de 200 mil pessoas morreram”, sugere.



Música



Fundador do nacionalmente famoso Porão do Rock, Clausem Bonifácio também tem carreira bem sucedida pela música. Participa de três bandas: duas autorais - Bossa Funk e Nulimit - com as quais já gravou dois discos e uma cover do Lulu Santos.





Sempre trabalhou com música mas assume que cantar e tocar é mais hobby do que profissão: “Queria que o músico bancasse o fotógrafo mas é o contrário”, brinca.



Esta miscelânia artística é o que define o trabalho de Clausem. Convidado a apontar algo como seu diferencial, ele escolhe isso: sua forma holística de trabalhar e enxergar a vida.