OS PIONEIROS DO DESIGN GRÁFICO NO BRASIL

Cris Alcântara fala do livro "O design brasileiro antes do design: aspectos da história gráfica" e analisa o início deste cenário nacional.

Publicado em: 27/08/2014
Minha grande descoberta literária deste mês foi o livro O design brasileiro antes do design: aspectos da história gráfica, 1870-1960, com textos de Rafael Cardoso e outros autores. A leitura deste livro me impressionou tanto ao ponto de querer escrever sobre o assunto por aqui. Pra começar, gostaria de dizer que em cada um dos capítulos tive a nítida impressão de estar descobrindo a pólvora. Sim, Design brasileiro antes do design, com título sugestivo e curioso, nos dá uma série de argumentos interessantíssimos acerca de uma história do design nacional anterior aos conhecidos anos racionalistas da arquitetura e do design, relacionados ao modernismo das escolas suíças e de Ulm. Rafael Cardoso, Lívia Lazzaro Rezende, Aline Haluch, Julieta Costa Sobral e outros autores do design nos falam de uma história gráfica brasileira riquíssima em qualidades técnicas, tecnológicas e criativas, ocorrida nas primeiras décadas do século passado.



Um dos aspectos mais interessantes do livro trata das revistas ilustradas do início do século passado: O Malho, Para todos e A maçã, foram sucesso de venda e são as precursoras na produção de revistas deste tipo no país. Um dos aspectos mais interessantes é o caráter vanguardista e experimental das publicações, que possuíam públicos-alvo variados.



O Malho, com qualidade gráfica primorosa e mesclando modernidade e tradição, tratava de temas da política nacional e tinha colaboradores como Olavo Bilac e os artistas gráficos K. Lixto, J. Carlos e Andres Guevara. As capas são um caso à parte: lindíssimas, impressas em duas ou no máximo três cores e com um forte conteúdo simbólico, são de deixar designers da atualidade de queixo caído.



Já a A maçã, lançada em 1922, também no Rio de Janeiro, era considerada uma revista semanário “galante”, dirigida ao público masculino e, com um tom satírico, tratava de temas transgressores para a época. As capas e o projeto gráfico interno da revista apresentam soluções incomuns e inovadoras, tanto na diagramação, quanto nas ilustrações, como nesta capa em que se vê uma jovem junto à minúscula figura de um homem do tipo burguês da época. Além das capas, o conteúdo da revista também era extremamente moderno e inovador.



De todas as revistas citadas em O design brasileiro antes do design, minha preferida é Para todos. Criada em 1918, era dedicada exclusivamente ao cinema, trazendo em suas capas inicialmente a fotografia colorizada de atrizes e atores da época e, posteriormente, com o trabalho do ilustrador e artista gráfico J. Carlos, passaram a ser ilustradas. A revista era voltada para o público feminino jovem e tinha uma pauta leve que permitia uma maior liberdade gráfica. Me encantei pelas capas ilustradas de J. Carlos e com as figuras criadas por ele.  Mulheres sempre gigantescas e soberanas aparecem junto de homens em forma de pequenos momos, faunos, pierrôs e pajens. Alguns personagens políticos da época apareciam como gnomos. Com uma estética lúdica e uma técnica invejável, as capas tem um tom poético fascinante.



Publicações como O design brasileiro antes do design, são um importante passo para a ampliação da pesquisa entorno da produção gráfica existente no Brasil, nas primeiras décadas do século passado. Se o que entendemos como design tem relação com técnica, tecnologia, criatividade, soluções projetuais e produção industrial, revistas como estas são a prova de que o design nacional começou bem antes do que os livros dizem, e, diga-se de passagem, muito bem, obrigada!