ESCRITÓRIO CANDANGO EM NOVA FASE

Bloco Arquitetos tem nova fase marcada por desafios, como o planejamento de um novo bairro em Brasília.

Publicado em: 09/09/2014
Um dos escritórios de arquitetura mais conceituados do país mudou de nome. Agora, a Domo Arquitetos se chama Bloco Arquitetos. Foram incorporados ao contrato social da empresa mais cinco sócios, da sociedade inicial formada entre os arquitetos Henrique Coutinho, Matheus Seco e Daniel Mangabeira. A nova equipe, que já trabalha com os profissionais há algum tempo, são arquitetos co-autores de projetos. A empresa também possui estagiários e uma equipe de engenheiro civis e projetistas de instalações, que trabalham com o grupo em 90% de seus projetos. Para eles, o projeto completo, do desenho inicial ao acompanhamento das instalações e estruturas faz parte do trabalho criterioso que desenvolvem, mantendo o padrão de qualidade que o escritório tem oferecido aos seus clientes.



O novo nome possui diversos significados para a empresa. Uma das ligações com o grupo é por conta da atuação em conjunto, e é por meio disso que o escritório tem se consolidado ao longo dos anos: projetos em coletivo, com a colaboração de cada membro da equipe, fazendo a comunicação das várias áreas e profissionais envolvidos no todo do projeto. Outro quesito que influenciou na escolha da nova nomenclatura é a cidade-sede do escritório, Brasília. A divisão física da cidade, do Plano Piloto, que é feita em blocos residenciais e comerciais, marca a nova fase da empresa.
Os arquitetos nunca buscaram se especializar em projetos específicos, para deixar em aberto a possibilidade de escolherem aquilo que mais se aproxima de suas concepções profissionais. Segundo Matheus Seco, um dos sócios-diretores, hoje o grupo tem conseguido optar mais pelos projetos em que trabalha. Produzem obras que sejam inspiradoras para seus clientes e que consigam interagir positivamente com Brasília. “Vemos em Brasília uma série de qualidades, como os espaços públicos abertos. É possível, em escalas diferentes, produzir as soluções que a cidade oferece nos projetos em que trabalhamos”, adiciona o profissional. “É como se Brasília fosse uma solidificação de um sonho. A cidade tem seus problemas, mas como todo laboratório, tem muito a ensinar. A gente aprende muito no dia a dia da cidade”, finaliza o arquiteto.
Atualmente, a Bloco Arquitetos está trabalhando num audacioso projeto, a construção de um bairro em Brasília. O quarteirão fica próximo ao Jardim Botânico, e é um terreno privado em processo de aprovação para se tornar um bairro misto, com comércio e residências. O grupo conseguiu modificar alguns detalhes do projeto urbanístico que consideravam imprescindíveis ao modo de trabalhar da empresa, adequando à planta elementos de acessibilidade e arquitetura.  “É um projeto de muito longo prazo, e cada proposta de urbanismo que temos é discutida com o secretário de habitação de Brasília”, comenta Matheus Seco.



Confira quatro projetos do grupo que selecionamos especialmente para vocês. Os trabalhos traduzem bastante a obra dos arquitetos, pois conversam com as questões que eles mais se preocupam: o diálogo entre as obras e a cidade, a preocupação ambiental e espacial e o desejo do cliente com a visão de mundo da empresa.

CASA MIGLIARI
Construída, 2013-2014 – Brasília – 470 m²



Este projeto representa bem o tipo de proposta que o escritório gosta de trabalhar. Construída num condomínio fechado, a residência precisava se adequar a uma regra de um pré-definido estatuto: a casa tinha que ser branca e ter tijolos aparentes. Desenvolvido o plano de construção da casa, os clientes entraram em sintonia com os arquitetos e deram seu aval para o projeto. Para o lugar dos tijolinhos, adaptaram um tipo de cerâmica natural.


Estando situada num condomínio fechado, a casa não foi aberta para a rua, e sim completamente para o fundo, que é uma mata. A fachada da casa faz uma comunicação, através dos repuxes, nunca diretamente pra rua, possuindo um recuo que cria uma espécie de praça dentro do terreno. A casa não tem cercas e seu design promove uma integração da residência ao condomínio.



A captação da luz solar foi muito bem executada. Como Brasília é muito quente e tem o ar muito seco, sempre nos preocupamos com um estudo detalhado de como podemos melhorar isso. Orientamos esta casa para que captasse a luz do sol sem trazer calor pro seu interior. A casa é totalmente térrea, com pé-direito duplo na sala. O sol poente entra na janela, e reflete numa das paredes, entrando apenas a luz, e não a sensação térmica. Depois de um estudo e marcação topográfica, a janela alta do estar é focada numa árvore, estrategicamente preservada para ser enquadrada na abertura. Outro fator que marca o projeto é a ausência de portas. Os arquitetos planejaram as áreas social e íntima separadas por jardins.


CASA TORREÃO
Construída, 2011-2014 – Brasília – 405 m²


No terreno desta obra existia um aterro, com um declive de 5 a 6 metros e uma mata natural, sem vizinhos. O antigo dono do local havia construído um platô, o qual foi incorporado ao novo projeto. Sua área foi aumentada e a casa foi implantada nele.



Depois de uma escavação, a casa ficou 3 metros abaixo do nível da rua. Os arquitetos conseguiram fazer com que ela fosse protagonista da vista do lugar. Quando alguém chega ao condomínio, é possível ver somente um pedaço do muro. Ela é discreta e sua cobertura um teto-jardim, o que contribui com a questão térmica da casa.



Todos os ambientes da construção possuem ventilação cruzada, o que também influencia na questão climática da residência. Nos banheiros, que ficam no miolo do projeto, existe uma clarabóia, que também provê ventilação e difusão de luz. À noite, serve também como parte fundamental do projeto de iluminação da casa.


EDIFICIO POSEAD
Construído, 2009-2011 – Brasília – 3.315m²



O maior desafio deste projeto foi se adequar ao orçamento do cliente, que dispunha de R$ 1.300 reais para serem gastos por metro quadrado. O valor-base para obras semelhantes está por volta dos R$ 5 mil/m².



O edifício fica em frente da Via Estrutural, no Setor de Indústria e Abastecimento de Brasília, o SIA, ficando a apenas 10 metros da auto-estrada. Outro fator levado em consideração na construção do prédio foi a necessidade de se diminuir os ruídos provenientes da avenida e minimizar a intensa luz solar.



A solução foi utilizar janelas recuadas na fachada, utilizando armários nesses espaços, utilizados nos escritórios e como compartimentos técnicos. Eles também possuem a função de refletir a luz natural para o interior do edifício, evitando a insolação excessiva, e servindo como barreira para o barulho da rua. A parte posterior foi fechada em vidro e fica voltada para uma praça que articula a ala de escritórios com a torre de circulação.



Foram pensadas soluções economicamente viáveis, que fossem mais baratas para manutenção, sem muitos artifícios que encarecem a construção, como esquadrias mais baratas. O projeto foi desenvolvido de forma que usou apenas uma parte do terreno, deixando espaço para futura ampliação.


CASA ABERTA (RÉPLICA DE PARTE DA CASA MIGLIARI)


Este projeto foi selecionado para a X Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, no ano de 2013, sendo uma reinterpretação da Casa Migliari. Neste redesenho, as paredes possuem 40 centímetros de altura e o mobiliário urbano é utilizado nos limites reais da casa.



Na moderna instalação, era feito um interativo passeio nas dependências da construção. Em cada cômodo da casa existia um QR Code que permitia a comparação da obra real com aquela intervenção ali, traduzindo à audiência a grande diferença espacial entre o público e o privado. A proposta inicial era de que o projeto fosse desenvolvido no Parque Ibirapuera, mas por diversos fatores acabou sendo realizado no Centro Cultural São Paulo, mesmo local escolhido para as outras atividades da Bienal.



O Centro Cultural SP é um espaço público muito interessante, localizado no bairro Paraíso, na capital paulista, e nele existem diversas praças abertas. Uma delas serviu de locação para a exposição.