CASA BRASILEIRA, QUINTA TEMPORADA

Baba Vacaro e Alberto Renault, contam para o Anual Design sobre o processo de criação e bastidores do cultuado programa.

Publicado em: 01/06/2014
Com pouco mais de três anos de vida, o programa Casa Brasileira, que hoje caminha para a sua quinta temporada no GNT, já se tornou um grande aval da arquitetura brasileira e um queridinho do grande público. Sua sobriedade, curadoria impecável e respeito pela fascinante arte de morar e pelo estilo de vida brasileiro, fizeram dessa série documental um verdadeiro clássico. Mais do que isso, o programa está construindo, com imensa sensibilidade, sob direção de Alberto Renault e roteiro de Baba Vacaro, um importante registro da arquitetura brasileira contemporânea. Em encontro exclusivo com o Anual Design, a dupla conta um pouco dessa doce e ousada saga que é levar ao público o melhor da arquitetura brasileira e do nosso jeitinho, ou se preferir, lifestyle brasileiro. 



A cada domingo, quando é exibido o programa, os telespectadores são convidados a conhecer casas de personagens, famosos ou não, que são verdadeiras obras de arte. A partir delas e das histórias de vida dos moradores, o programa revela o processo íntimo de criação de cada artista. Cada episódio do programa compartilha a visão dos mais importantes arquitetos e designers do país sobre o jeito brasileiro de morar. O CASA BRASILEIRA já contemplou mais de 40 mestres da arquitetura e do design, entre eles: Índio da Costa, Paulo Mendes da Rocha, Sérgio Rodrigues, Marcio Kogan, Carlos Motta, Isay Weinfeld e muitos outros não menos importantes. O programa, que já teve edição de férias, e na última temporada saiu ao encontro de brasilidades fora do Brasil como em Portugal, França e Uruguai, terá nessa quinta temporada, o primeiro episódio gravado no centro do Brasil.



Esse formato leve e sincero de abordar a arquitetura e o design é fruto da união de dois profissionais de peso, que, com muita propriedade, cumprem a difícil tarefa de buscar os mais belos espaços de vida e extrair deles, e de seus moradores, histórias, sentimentos e brasilidades.
Baba Vacaro é designer, diretora de criação de grandes empresas, consultora e estrategista em gestão de design e curadora do Casa Brasileira. Baba é frequentemente convidada a ministrar palestras sobre o tema Brasil afora, e em uma dessas ocasiões, nós do Anual Design tivemos o prazer de falar sobre sua trajetória nesta outra matéria, que pode ser conferida aqui. Detentora de um enorme conhecimento técnico sobre arquitetura e design, ela destaca o artista a ser homenageado e traça o roteiro de suas melhores obras e histórias. Entra em cena então, o tradutor: Alberto Renault. Ele, que por muito tempo adaptou e dirigiu óperas e peças de teatro, já teve três romances publicados, e que adquiriu expertise em direção de documentários para TV, possui uma vocação para decodificar linguagens próprias de determinados segmentos, e levar a essência das histórias ao grande público. A dupla é responsável pelo viés humano do programa, que sobrepõem o discurso técnico da arquitetura e transmite a emoção do conjunto da obra.
Alberto Renault assina ainda a direção do programa Arte Brasileira, que estreou no mesmo horário (domingo, às 23 horas), onde, nos moldes do Casa Brasileira, traça um perfil informal de alguns dos maiores nomes da cena artística contemporânea do país. Reafirmando o seu papel de tradutor e desmistificando a distância entre arte e cotidiano, o programa apresenta a arte de Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Ernesto Neto, Tunga, Zerbini e muitos outros nomes da arte nacional que têm levado seus trabalhos aos quatro cantos do mundo.



Anual Design: É correto dizer que o pilar do programa é o ‘casamento’ dos distintos talentos de vocês, no qual o Alberto se encarrega da parte televisiva e a Baba do conteúdo de design e arquitetura?
Baba: De certa forma sim. Mas mesmo o Alberto não sendo arquiteto, ele é um esteta, um profundo conhecedor de arte, design e arquitetura. Ele tem uma cultura gigantesca e admirável.
Alberto: Eu acho que trabalhamos juntos. Ter alguém ao lado para criar é sempre um termômetro. A Baba me ajuda no conteúdo, com certeza, e também no formato, uma espécie de casamento, onde um complementa o outro. Eu não diria então que ela é totalmente conteúdo e eu, forma.

Anual Design: Alguns episódios do Casa Brasileira visitaram Portugal, França e Uruguai. Afinal, o programa não é exclusivo da arquitetura brasileira?
Alberto: Quando fazíamos o Brasil Legal, no primeiro ano fomos pra Itália, no segundo para a França. É impossível falar do Brasil sem falar da imigração italiana, por exemplo. Assim como seria impossível falar de Niemeyer sem falar de Le Corbusier. É importante entender que encontramos influências que formataram nossa arquitetura em outros países. E ao mesmo tempo, você encontra trabalhos de arquitetos brasileiros não só em território nacional. A arquitetura é fruto de influências de várias escolas e de um diálogo muito rico entre culturas, e não podemos limitar. A casa brasileira poderia estar em qualquer lugar no mundo.

Anual Design: Uma casa e sua decoração é um reflexo das influências culturais de seu morador, porém, vez ou outra percebemos que a presença muito forte de certas tendências em decoração podem transformam residências em verdadeiros showrooms, deixando a alma da casa e das pessoas presas nas entrelinhas. Vocês acreditam que esta forma de prisão seja uma tendência ou isso sempre aconteceu?
Baba: Eu acho que cada vez menos as pessoas estão presas. Eu faço um exercício de olhar revistas velhas de vez em quando, e vejo que existia um padrão, as casas eram realmente todas muito parecidas. Nos anos 80, 90, imperou aquele minimalismo preto e branco, todas as casas eram iguais. Vejo que agora temos uma liberdade e o espirito dos moradores está muito mais presente. E percebo que as pessoas se libertaram dessa ideia de que existe certo e errado, ou que exista uma cartilha a seguir para ter uma casa legal.
Alberto: Podemos fazer um paralelo com moda. Se você é uma pessoa preocupada com moda, uma blusa que saiu de moda você não usa mais. Já decoração não é tão descartável, se for tão preocupado com tendência você vai sair jogando fora abajur e cadeira toda hora. Seria uma prisão. Ou como em um filme ambientado nos anos 50, por exemplo, em que a direção de arte é ruim, e a casa inteira é feita com coisas dos anos 50, como se a pessoa ali não tivesse herdado uma cômoda da avó, um retrato do avô. Não tem um pote, uma louça que veio de antes. A casa fica intacta, como se tivesse saído da loja dos anos 50. É estranho isso, uma casa parada no tempo, naquele momento que só existe ali. É uma casa que ainda não viveu ainda.



Anual Design: O programa hoje atinge um grupo de telespectadores que, como o Alberto, não necessariamente tem a arquitetura como profissão. São os admiradores que representam a maior parte da audiência. Atingir esse público era uma preocupação do programa?
Baba: Eu acho que o grande diferencial do Casa Brasileira é que a gente não fala “arquitetês”, o que é muito comum quando se tem arquitetos tratando, escrevendo ou mostrando arquitetura. O que acontece é uma tradução.
Alberto: Eu gosto de traduzir o que seria um código. A ópera, por exemplo, é a princípio feita para um público muito específico e uma adaptação permite quebrar as paredes, quebrar os nichos e tornar aquilo o mais acessível possível. Fiz muitas adaptações de ópera para teatro, e tenho feito esse exercício com arte também, mas eu acho que a casa é um presente, é um assunto que todo mundo ama. Todo mundo mora! Nem todo mundo compra uma obra de arte, mas morar, todo mundo mora. Desde os cinco primeiros episódios que fizemos, percebemos o interesse das pessoas, não pela arquitetura, a viga, a altura, o cimento ou o concreto, mas pela vida que a casa contém.

Anual Design: Da ópera ao Casa Brasileira, como se deu essa passagem do teatro para a televisão?
Alberto: Eu entrei na televisão no começo dos anos 90, pelas mãos de Regina Casé. A convite dela, fizemos um especial de fim de ano e esse programa deu origem a um programa que fizemos durante 3 anos, junto com Hermano Vianna, chamado Brasil Legal. Eu entrei como redator, depois redator final e, por fim, fiz a direção do programa. Depois fiz vários outros programas esporádicos com ela, e recentemente fiz a formatação do primeiro ano do seu atual programa, o Esquenta.



Anual Design: Conhecendo um pouco do trabalho de Regina Casé, imaginamos que esta maneira orgânica de dirigir, com pouca formatação, deve ter te influenciado como diretor.
Alberto: Eu aprendi com a Regina a fazer televisão de maneira espontânea e sincera. Eu não gosto de falar “ação, gravando”, não gosto de equipe grande. A ideia de televisão, de captação, de filmagem, sempre envolve muita gente, esse é um esquema que esfria as relações, ao menos que você seja um ator e esteja preparado para o momento. Mas quando estamos num documentário, se eu entro em uma casa com uma equipe muito grande, vários produtores falando, aí não funciona. Eu tento diluir essa invasão, e isso é fruto único e exclusivamente do meu trabalho com a Regina no Brasil Legal. Numa época em que o documentário na televisão não era tão presente, a gente fazia um trabalho pioneiro, onde no horário nobre da rede globo, entravamos em casas de sertanejos, de lavadeiras ou de dondocas da Barra. Era um jeito de mostrar o Brasil. Eu acho que continuo esse trabalho. O viés do Brasil Legal era antropológico, e aqui o viés é o da arquitetura e do design mas através da antropologia, do meu encontro com o morador. Do nosso olhar, e isso eu devo a Regina e ao Hermano.

Anual Design: O Hermano Vianna é antropólogo, certo?
Alberto: O Hermano é um mestre, um professor, ele tem um olhar que vai do Bumba meu Boi ao digital, vai do Vale do Silício a todos os aspectos da cultura brasileira, passando por todas as hierarquias. Mas ele escreveu recentemente em um artigo, no qual ele fala que sempre é apresentado como antropólogo, como cientista social, mas que ele gostaria mesmo é de ser apresentado como alguém que faz televisão popular. E é o que ele faz.

Anual design: A quinta temporada do Casa Brasileira teve seu primeiro episódio gravado no Centro-Oeste, onde vocês conheceram, mais uma vez, casas e o jeitos diferentes de morar. Durante esse trabalho, vocês puderam elencar alguma característica marcante da cultura da região?
Alberto: Evidentemente existe uma arte de receber, uma gentileza inegável. Não houve uma casa em que estivemos que não tivesse um lanche, ou um café da manhã, ou um jantar, que depois da gravação não nos sentássemos à mesa para conversar um pouco. Em muitos outros lugares, como Rio ou São Paulo, onde as gravações e a vida são mais apressadas isso não se vê. Mas isso é um traço do brasileiro. O brasileiro tem essa preocupação. É o café, o bolo, o empadão. Eu engordei desde que comecei a fazer o programa. Resumindo, o que eu posso dizer, é que, para mim, o Casa Brasileira engorda! (Risos)
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Separamos para vocês um trecho do programa que traz uma entrevista com Carlos Motta, um dos designers mais aclamados do Brasil. Assista abaixo:


COMENTÁRIOS

  • Ayrton Ângelo Da Silva - 20/04/2016 21h10
    Meus caros, é a primeira vez que uso de um meio eletrônico, para me manifestar sobre algum tema, dada a minha aversão a redes sociais. Entretanto, considerando a minha admiração e apreço pelo programa CASA BRASILEIRA, abro esta exceção, para parabenizá-los e fazer um apelo, não só para que a temporada 2016 tenha a sua estréia para o mais breve possível, mas, também, para que sejam editadas várias outras temporadas, por vários e vários anos, desse entretenimento que traz para dentro da casa da minha família a natureza brasileira, com bom gosto e poesia.
  • Maria Selma Da Silva - 01/02/2016 22h26
    GENTE, QUANDO INICIA A TEMPORADA 2016 DO AMADO PROGRAMA CASA BRASILEIRA. AMO LOUCAMENTE ESTE PROGRAMA, TAL COMO O MORAR E MORAR MUNDO. POR FAVOR. QUE INICIE LOGO. BJS A TODOS E MUITO OBRIGADA.
  • Lucas Ney Borges - 23/05/2014 09h39
    Um programa totalmente artístico! Acompanho desde a primeira temporada, e concluo que esse formato simples e suave de apresentar a arquitetura como devida arte que o fez chegar tão longe. Que venha mais 5 temporadas!
  • Cris - 16/05/2014 00h25
    Excelente programa, com um contexto simples, sensível e sofisticado ao mesmo tempo, que venha a 5° temporada!!!
  • Jairo Pires - 14/05/2014 14h35
    Ansioso até o último grau! Para assistir esta nova temporada!! *.*

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