NOVAS GALERIAS DE INHOTIM

Conheça os novos espaços de um dos maiores museus à céu aberto do mundo.

Publicado em: 02/10/2013
Espaços foram criados e modificados especialmente para receber quatro novas galerias permanentes. São obras de artistas de nacionalidades diferentes, mas que possuem uma característica em comum: são conhecidos internacionalmente. Elas passam a integrar as mais de 500 obras de artistas de renome, expostas em um museu a céu aberto de 3,5 hectares de área e com mais de 4.500 espécies de plantas cultivadas.
Inhotim, localizado na cidade de Brumadinho, interior de Minas Gerais, trouxe para o espectador um pouco da crítica aos espaços urbanos de Carlos Garaicoa; da obra que se mescla à natureza, de Cristina Iglesias; da espacialidade de Lygia Pape; e do organismo vivo e plural de Tunga. Além das instalações permanentes, novas exposições temporárias integram o espaço da Galeria da Mata. Mateo López, Luisa Lambri e Juan Araujo recepcionam quem adentra o local, com obras que giram em torno da ideia de construção, junto aos guaches do início da década de 1950 de João José Costa. Quem continua andando pela galeria ainda se depara com a coleção integral das heliogravuras de León Ferrari, com uma grande instalação de Edward Krasinski e com a primeira obra de Renata Lucas em exposição em Inhotim.

Vegetation Room Inhotim - Cristina Iglesias





Entre as árvores de uma floresta secundária, uma caixa quadrada de metal, coberta de aço inoxidável, cria uma relação de quase simbiose entre criação e natureza. A obra reflete, como um espelho, a vegetação ao redor, e se camufla, minimizando a interferência visual sobre o ambiente. De acordo com o curador Rodrigo Moura, a artista criou um espaço que se aproxima de uma estrutura arquitetônica. “Mas também é escultura e lida diretamente com a representação de elementos da natureza”, esclarece.
Criada pela espanhola Cristina Iglesias, a instalação Vegetation Room Inhotim (2010 – 2012), ou Habitaciónes Vegetales, em espanhol, faz alusões ao barroco, com um labirinto e dando a ideia de infinito, e também referencia, como na maioria de suas obras, a literatura fantástica e a ficção. As paredes são revestidas com baixo relevo de elementos vegetais. No centro, um poço dá a impressão de que a obra foi construída em cima de uma fonte de água com fluxo constante. Todos os elementos da instalação criam uma espécie de diálogo com a floresta, trazendo a sensação de que são vestígios reais de vegetação ou que representam uma fantasia. Essa obra é um dos desdobramentos da participação da artista na 45ª Bienal de Veneza, onde expôs Habitación de Alabastro. Depois disso, Habitaciónes Vegetales ganhou instalações em outros lugares, como em Barcelona, na Espanha, e em Umea, na Suécia.

GALERIA TUNGA - Tunga





O pai era um conhecedor das palavras, culto e falante de oito idiomas. O avô, um colecionador de arte, anfitrião de reuniões festivas das quais participavam nomes como Portinari e Manuel Bandeira. A família na qual Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, o artista plástico Tunga nasceu, predizia o rumo que o menino viria a seguir.
Pouco mais de 60 anos depois, Inhotim ganha uma galeria inteira com o nome de Tunga. Com obras completas e que, ao mesmo tempo, representam fragmentos de cenas, de histórias, pacotes de lembranças e de imaginações, a Galeria Tunga funciona como um organismo vivo. Ao mesmo tempo em que as obras se relacionam entre si e formam um todo, a instalação se comunica com a estrutura arquitetônica onde foi organizada e com a floresta externa.
Arquitetado também pelo escritório Rizoma, o grande edifício com paredes de vidro permite que as obras sejam vistas de fora e, do mesmo modo, que a parte externa faça parte do que é interno. Como peça central da galeria, o filme-instalação Ão (1980), foi posicionado como uma nascente, de onde tudo parte. Oito grandes afluentes de instalações e esculturas foram colocados no espaço de 2.600 m2. São mais de 30 anos de produção artística de Tunga expostos em um mesmo organismo.

Now Let’s Play to Disappear II - Carlos Garaicoa



Uma cidade em miniatura construída com velas em formato arquitetônico de edifícios-ícones do mundo e também outros anônimos. Exposta em cima de uma mesa, no estábulo da fazenda, a obra Now Let’s Play to Disappear II (2002), do cubano Carlos Garaicoa, é uma crítica à efemeridade dos espaços urbanos modernos.
No local escuro, as luzes das velas são quase a única fonte de iluminação. Todos os dias, elas são reacendidas. “À medida que o fogo vai consumindo, a obra vai desaparecendo. O trabalho lida com o aspecto efêmero da escultura. É uma escultura que se consome no espaço”, explica o curador Rodrigo Moura. Após alguns dias, as miniaturas são substituídas por outras idênticas, e o ciclo se inicia novamente.
A exposição, de longe, se parece com a vista noturna de uma cidade. Mas, de perto, outras alusões mais sombrias vêm à mente. Muito lembra as homenagens, feitas com velas, aos mortos de todos os grandes acidentes, ou mesmo as chamas de uma guerra moderna. A obra foi uma reação de Garaicoa ao que aconteceu em Nova Iorque, em 11 de setembro de 2001.
O artista, que atualmente vive entre Havana e Madri, é conhecido por obras que ponderam, de forma sublime, sobre a experiência humana nas metrópoles. A exposição foi instalada em um antigo estábulo, que passou por uma reforma para receber a obra, mantendo suas características originais. O objetivo é fazer um diálogo entre as histórias que os edifícios carregam e os elementos da instalação.

Ttéia nº 1 C - Lygia Pape




Fotos: Daniela Paoliello

“As Ttéias produzem um forte impacto pela discreta delicadeza de sua disposição cortante e irradiam, conforme o deslocamento do espectador, reflexos da luz ambiente.” Este trecho da análise das obras de Lygia Pape feita, em 1994, pelo crítico de arte Fernando Cocchiarale, sintetiza uma das novas exposições permanentes de Inhotim.
A instalação Ttéia nº 1 C (2002) é a primeira da artista fluminense em exposição no museu mineiro. Integrante de um grupo de trabalhos cuja origem data do final da década de 1970, a obra é uma das diversas versões construídas pela disposição geométrica de fios dourados no espaço. Além disso, foi a que representou a artista na 53ª Bienal de Veneza, em 2009, e que integrou a retrospectiva que passou por Madri e São Paulo.
Com fios metalizados que vão do chão ao teto, a instalação se une aos elementos arquitetônicos da planta quadrada coberta por outro quadrado retorcido. O espaço, criado pela Rizoma Arquitetura, tem uma torção que, segundo o curador e diretor artístico de Inhotim, Jochen Volz, permite ao visitante perder a capacidade de orientação diante da obra.
A fotógrafa e filha de Lygia Pape, Paula, afirma que uma das características principais da obra da mãe, e que também está presente nesta instalação, é a espacialidade. “Também a presença do espectador. É uma coisa inédita, porque geralmente é a obra que se mexe. Nesta instalação de Lygia, o espectador move a obra deslocando o próprio corpo.”
Lygia foi integrante do Neoconcretismo, movimento artístico que buscava novos caminhos e que dizia que a arte não se trata de um mero objeto. “Acho que Pape foi a que mais ousou. Ela trabalhou com todos os tipos de materiais, coisas vivas, bichos, cheiros, formas, pinturas, esculturas. Fez isso desde o início”, analisa Paula, e completa sorrindo: “Para mim ela é uma artista supra sensorial.”