ISAY WEINFELD

O cineasta que se tornou um dos principais nomes da arquitetura contemporânea brasileira .

Publicado em: 25/03/2013
“A arquitetura é dança, música, cinema, teatro, moda e artes plásticas juntos, debaixo de um mesmo telhado.” Com esta visão, Isay Weinfeld ocupa posição de destaque no mainstream da arquitetura nacional, admite sem pudores que foi influenciado pelo cineasta sueco Ingmar Bergman e não pelo mito Oscar Niemeyer. Apesar de admirar a obra de Niemeyer, diz que ele não teve nenhuma influência no que realiza. Ele revolucionou a forma de pensar os espaços justamente por ver a arquitetura como uma arte que engloba muito mais que apenas o espaço físico. “Pensar só em arquitetura 24 horas por dia é tedioso”, afirma.
Paulistano de origem judia, Isay Weinfeld formou-se em Arquitetura, mas trabalhou também com cinema, cenografia, design de mobiliário e está sempre em busca de novos desafios, em que cada trabalho seja único, feito sob medida para cada cliente. Ele não vê nenhuma razão em  repeti-los.
Suas obras renderam uma vasta lista de premiações, entre elas o grande prêmio Mipim Architectural Review Future Project Award 2009. No mesmo ano, lançou o livro Isay Weinfeld, escrito pelo jornalista e arquiteto americano Raul Barreneche, com uma coletânea de 15 de suas obras residenciais. O arquiteto é referência no setor, embora cultive um estilo “low profile” e seja avesso à vaidade que domina o meio.

Weinfeld, o cineasta
A paixão por fazer cinema o acompanha desde 1974. Weinfeld realizou 14 curtas-metragens e colecionou prêmios no Brasil e no exterior. Seu último curta-metragem, Idos com o Vento..., produzido em 1984, foi premiado como melhor filme do Festival de Gramado e no Festival de Huelva (Espanha), competindo também em importantes festivais internacionais, como Melbourne, Chicago, Sitges, Montreal, São Paulo, Porto e Vevey. Escreveu e dirigiu seu primeiro longa-metragem, Fogo e Paixão, em 1988, sucesso de crítica e público, considerado na Suíça uma das dez melhores comédias realizadas naquele ano em todo o mundo.
O cinema teve reflexo direto nas criações do arquiteto. Cada projeto que realiza, independente de ser residencial ou comercial, é uma experiência sensorial, onde a emoção provocada é tão fundamental como na tela. Para ele, “a arquitetura tem que provocar infartos”.

É dessa forma que o seu trabalho começa, a partir dos desejos e emoções das pessoas. Se houver uma conexão, afinidade estética entre ele e o cliente em potencial, o projeto é realizado. Caso contrário, Weinfeld não hesita em dizer não. O que o move é muito mais do que um trabalho, pois tudo que realiza envolve paixão.
O arquiteto afirma que não cria apenas um espaço físico, onde o mais importante seria utilizar materiais nobres. Ele pinta seus ambientes como um diretor de cinema que escolhe enquadramentos, verifica a luz, dá atenção a cada detalhe do cenário. Os materiais utilizados estão em segundo plano, ficam a serviço da ideia.
Com uma mente inquieta e sempre em busca de realizar coisas novas, ele evita projetos semelhantes. Se acabou de fazer um restaurante, não vai querer emendar um novo projeto de restaurante. Weinfeld já parte para algo totalmente diferente.
Ele critica a pretensão de certos profissionais e também  de certo tipo de clientes e acredita que o luxo está na simplicidade. Em sua visão, o luxo é ter em casa aquilo que nos deixa felizes, espaços que nos levem a respirar profundamente, a nos espantar, a pensar, estranhar, nos emocionar. Luxo para Isay Weinfeld é antes de tudo liberdade criativa.

Livraria da Vila - Um convite à leitura


Foto: Leonardo Finotti

Logo na entrada da livraria, as portas-vitrines-estantes pivotantes convidam o cliente a entrar e explorar a loja e seus vários ambientes. Até os vazios que ligam um andar a outro são elementos do projeto de Weinfeld que encantam e atraem pelo inusitado.


Foto: Leonardo Finotti

A necessidade de uma planta livre para melhor arranjo dos produtos e da circulação determinou significativas alterações estruturais no edifício existente. Foram incorporadas peças metálicas e foi feito o reforço das fundações, possibilitando o deslocamento dos pilares para o perímetro da construção. O acréscimo de um subsolo permitiu todo um andar dedicado ao público infantil e também um miniauditório.


Foto: Leonardo Finotti

O espaço foi pensado para valorizar o produto: os livros. Assim, o arquiteto compôs ambientes de pé-direito baixo, tons escuros, iluminação indireta e com estantes intermináveis que tomam todas as paredes até o teto. Onde quer que se olhe há livros e o clima despojado, lembrando os sebos, deixa o cliente à vontade. Pode-se buscar nas estantes os livros que se queira para folhear ou mesmo ler nos sofás e poltronas espalhados pelos vários andares. A Livraria da Vila tornou-se mesmo um lugar que é um verdadeiro convite à leitura.

Havaianas - Informalidade com muito estilo


Foto: Nelson Kon

Nesse projeto, Weinfeld conseguiu aliar a descontração característica das Havaianas a um espaço inovador, cheio de estilo e que está em um dos endereços mais valorizados de São Paulo.  A loja-conceito da marca fica na Rua Oscar Freire, no concorrido bairro Jardins.
O desafio do arquiteto foi manter a informalidade da marca e transpor à arquitetura o clima de frescor, tranquilidade, bem-estar e brasilidade que a grife representa. Isay Weinfeld idealizou um espaço totalmente aberto para a rua, quase uma praça, que funciona como uma continuação da calçada, sem portas ou vitrines. O paisagismo e intensa iluminação natural dão o toque informal.


Foto: Nelson Kon

A construção possui níveis descendentes. No plano da rua, há uma pequena área de estar, mezanino de onde se avista toda a loja que fica um nível abaixo. Um grande vão livre de pé-direito duplo, esta é a loja propriamente dita, pontuada por elementos autônomos. Encontra-se ali uma barraca de feira que lembra a origem das sandálias, vendidas inicialmente nos mercados livres da cidade. Adiante está um contêiner que abriga os modelos "tipo exportação", ainda inéditos no Brasil. Em outro ponto, um cilindro transparente expõe os chamados "novos produtos" da marca: bolsas, meias, toalhas, etc. E um cubo altamente tecnológico conta a história da Havaianas. Há também um espaço rebaixado para serviços de customização e expositores para os produtos da linha infantil.


Foto: Nelson Kon

A loja-conceito Havaianas foi premiada na segunda edição World Architecture Festival - 2009 (WAF), na categoria espaços comerciais e ganhou o troféu Ouro na categoria Ambientes do prêmio IDEA de design nos Estados Unidos.

Carina Duek - O closet dos sonhos


Foto: Leonardo Finotti

O projeto de Isay para a loja Carina Duek expressa bem, em seus cerca de 180m², conceito e moda desenvolvidos pela estilista, mesclando o moderno ao romântico e delicado. Na fachada toda em vidro, o arquiteto colocou, ao centro, um grande guarda-roupa antigo de madeira, que literalmente se atravessa para adentrar a loja. O interior, em tons suaves, é acolhedor.


Foto: Leonardo Finotti

Entre os móveis e peças utilizados na decoração estão armários garimpados em lojas de móveis usados, lustres desenhados por Merrie Shinder e ilustrações do artista plástico Marcelo Stefanowicz. Os ganchos dos provadores são em forma de laços, um símbolo da marca. Detalhes como esses dão à loja o clima especial de estar entrando no closet dos sonhos.