Viagem aos anos 80

Cenários da série Stranger Things foram renderizados em plantas para análise dos seus conceitos arquitetônicos

Publicado em: 28/11/2016
Stranger Things, série original da Netflix criada pelos irmãos Matt e Ross Duffer, tem a seu favor inúmeros fatores. A produção não se tornou um fenômeno mundial por acaso. Mas um dos mais significativos é a viagem sinestésica que a série transmite ao telespectador por meio da recriação impecável dos anos 1980. Não falamos aqui apenas de cenários ou figurinos, mas da atmosfera que toma conta da história. Diante de toda essa repercussão, a arquiteta Boryana Ilieva, especialista em arquitetura cinematográfica, produziu um estudo de espaços e quesitos como luz/sombra por meio de croquis dos cenários de Stranger Things. 



Em suma, a série conta a história de um garoto de 12 anos que desaparece na fictícia cidade de Hawkins, em Indiana, nos EUA, em 1983. Ao buscarem pelo menino, seus amigos e familiares se deparam com um experimento secreto do governo e uma garota com poderes sobrenaturais. Inúmeras referências ao cinema da década estão presentes no roteiro e na condução da história.

O primeiro episódio da série nos apresenta a um grupo de crianças formado por Mike, Will, Lucas e Dustin jogando "Dungeons and Dragons" no porão de Mike Wheeler. O espaço funciona como uma espécie de QG do grupo, sendo usado mais tarde para abrigar Eleven, uma fugitiva de um laboratório do governo com poderes sobrenaturais. Sua posição no recorte promovido pela arquiteta evidencia sua posição mais discreta e camuflada.



Nos andares superiores estão os outros cômodos, como sala de TV, de jantar e os dormitórios, incluindo o da irmã de Mike, Nancy, cujos conflitos amorosos serão parte importante da série. A composição da casa, com muitas divisões, ajuda a “guardar” os segredos. Seu funcionamento remete aos jogos de tabuleiro, com personagens se escondendo pela casa e escapando por portas e janelas. A paleta de cores aqui é mais suave e remete aos bons sentimentos, à felicidade da família. Os papéis de parede variam entre cores claras, como rosa e azul, e os elementos decorativos refletem a boa condição financeira.



Já a casa da família Byers, onde vivem Joyce e seus dois filhos, Jonathan e Will, é envolvida por ares mais soturnos. A ansiedade faz parte da vida dos personagens, já que o pequeno Will é quem desaparece, deixando a mãe à beira do descontrole emocional. Em determinado momento, Joyce enche a casa com luzes de Natal, o que certamente adiciona certo encanto. Embora as interações entre as paredes sejam sinistras, as cores do desenho em particular expressam a desgraça iminente da moradia. A casa tem um layout que funcionaria como labirinto e na paleta de cores predominam os tons sóbrios e terrosos. O corredor parece extremamente longo e estreito.



A segunda temporada da série já foi anunciada e deve ser lançada no catálogo da Netflix em 2017.