Arte eternizada

Artista israelense utiliza processo de salinização para eternizar peças

Publicado em: 26/09/2016
Por volta de 1913, o escritor judaico S. AnSky contou a história de uma jovem possuída pelo espírito de seu amante falecido, na peça Dybbuk. Um século depois, a artista israelense Sigalit Landau inspirou-se nessa trágica dramaturgia como forma de dar vazão a seu mais recente trabalho, Salt Bride (Noiva de Sal, em tradução literal).
 

Na literatura antiga, a jovem Leah é impedida de se casar com o homem que ama por estar predestinada a outro com mais recursos. Desiludido, o amado rejeitado morre, se tornando um espírito que toma o corpo de sua amada para aprisioná-la pela eternidade.



A obra da artista Sigalit Landau estabeleceu um diálogo riquíssimo com a dramaturgia. Ela optou por deixar submerso um vestido nas águas do Mar Morto por dois anos, sendo que a vestimenta é uma réplica exata do modelo utilizado pela lendária atriz Hanna Rovina, do Teatro Nacional de Israel, reconhecida por interpretar por anos o papel da noiva possuída.
 

Neste período em que o vestido ficou submerso nas águas salobras do Mar Morto, a artista fez registros fotográficos frequentes para acompanhar o processo de salinização da peça. Com o passar do tempo, os cristais de sal se sedimentaram no tecido, a ponto de criar uma espécie de segunda pele de sal. 



A galeria de arte Marlborough traçou o paralelo entre as duas obras: “A roupa preta de Leah é transformada sob a água em cristais de sal que gradualmente aderem ao tecido. Ao longo do tempo, a alquimia do mar transforma a peça em um símbolo associado com a morte e loucura, transformando-o no vestido de casamento que sempre foi predestinado a ser”.



Esse não foi o primeiro experimento artístico de Sigalit Landau com cristalização de objetos nas águas do Mar Morto. Por anos, ela tem submetido peças variadas ao processo de transformação natural nas águas salobras. Seu fascínio pelo Mar Morto iniciou-se na infância em Jerusalém, quando sua família realizava passeios aos finais de semana tendo suas margens como paisagem. “É como o encontro com um sistema de tempo diferente, uma lógica diferente, um outro planeta”, descreve.